Para compreender adequadamente qualquer
coisa que eu escreva sobre política, o leitor deve ter em conta que eu
sou adepto do debate moral. Em resumo, a questão da moralidade na
política deve ser uma preocupação central. Assim sendo, existe aquilo
que se define como hierarquia de valores. Muitas vezes o purismo apela a
discursos falaciosos onde “todos são o mesmo”. Isso pode servir como
propaganda e estímulo útil dentro do groupthink, mas geralmente empaca na hierarquia de valores.
Ao mesmo tempo, algumas pessoas puristas
podem se revoltar ao me ver rejeitando alguns purismos. Não demora para
afirmarem que estou “automaticamente optando entre (a) e (b)”, quando na
verdade, até por questões morais, eu não poderia fazê-lo. Podemos
definir a hierarquização de valores como uma forma de organizar ações em
que as mais importantes são classificadas segundo sua importância.
O discurso visando “igualar todos os
esquerdistas” já foi adotado por mim no passado. O abandonei pois fui
notando que em qualquer análise sob a ótica da hierarquia de valores ele
não se sustentava. Politicamente, uma das maiores imoralidades é o
totalitarismo, atributo da extrema-esquerda. Já a esquerda moderada não
defende o totalitarismo.
Evidentemente, toda a esquerda não só
pode, como deve ser criticada. Devemos denunciar todo o estatismo, vindo
ele do PSDB ou do PT. Devemos denunciar todo o marxismo cultural,
apoiado ele por FHC ou por Lula. Mas não podemos igualar os dois em
essência, pois a extrema-esquerda é totalitária, enquanto a esquerda
moderada não é. E hoje precisamos pressionar direitistas, centristas e
esquerdistas moderados para combater o totalitarismo. Essa é uma questão
moral.
Se alguns dizem que “o apoio ao
totalitarismo é irrelevante, então extrema-esquerda e esquerda são
exatamente o mesmo”, estão tomando uma decisão moral que se visualiza
como monstruosa se levarmos o debate para uma análise da hierarquia de
valores. Evidentemente, qualquer tática política disposta a destruir
todas as pontes com liberais, centristas e esquerdistas moderados em um
momento onde temos que lutar contra a extrema-esquerda totalitária beira
a imoralidade.
Alguns dirão: “ah, mas na Suécia já
existem movimentos assim, atacando toda a esquerda”. Sim, é verdade, mas
lá eles não lutam contra o totalitarismo nos moldes que temos aqui. Há
até um politicamente correto opressor, apoiado por toda a esquerda e até
tolerado por uma direita frouxa. Essa é a luta existente por lá. Por
aqui, a luta é contra um totalitarismo de fato, com base em leis de
controle de mídia, controle de campanha, etc. (Aliás, aqui lutamos
igualmente contra o politicamente correto, pois ele se aliou à
extrema-esquerda)
As decisões que temos que tomar hoje se
equiparam à decisão tomada pelos Estados Unidos na Segunda Guerra: se
aliariam a Stalin para combater Hitler, ou “em nome da luta contra toda a
esquerda”, deveriam lutar contra os dois ao mesmo tempo e igualá-los
como inimigos? Entra aí a hierarquia de valores. Sem ela, acabamos
relativizando o inimigo do momento e as piores aberrações que tem sido
praticadas por eles. Isso em parte explica, como já disse em outro
momento, porque somos tão incapazes de lutar contra o totalitarismo
petista. Não poderíamos esperar resultado diferente, pois sem uma
hierarquia de valores, igualamos a abominável imoralidade de todas as
ações totalitárias petistas de qualquer tipo de esquerdismo – ou no
purismo mais exacerbado, até mesmo o conservadorismo ou o liberalismo,
isto, é claro, quanto ambos se atacam -, já que algumas pessoas
inseriram na mente de muita gente que “dá tudo no mesmo”.
Podemos lembrar do neoateísmo quando este
disse que “não havia diferença entre as religiões, todas davam no mesmo
e resultavam no mesmo perigo”. Os atentados em Paris e os estupros de
mulheres na Alemanha estão mostrando que essa noção não atende a nenhuma
forma de hierarquização de valores. Embora seculares possam lutar
contra toda a religião, igualar cristianismo e islamismo é um crime
moral. Dizer que “todas as religiões representam o mesmo perigo”, como
na visão do humanismo secular, é o mesmo que dizer que “todos os
esquerdismos representam o mesmo perigo” ou “esquerdismo e liberalismo
são iguais, e todos representam o mesmo perigo” (na visão conservadora
purista) ou “esquerdismo e conservadorismo são iguais, e todos
representam o mesmo perigo” (na visão libertária ou liberal, ambas
puristas).
Assim, deixo bem claro meu ponto de
vista. Embora por ser de direita e rejeite o esquerdismo em sua
integralidade, eu sei diferenciar aqueles que visam o totalitarismo e
priorizam sua busca daqueles que não tem essa prioridade ou mesmo a
intenção. E vou priorizar a luta contra aquilo que é a maior das
imoralidades políticas modernas: a ditadura sutil. O politicamente
correto vai junto na lista de inimigos, pois está sendo usado pelos
esquerdistas mais radicais tanto na Europa e nos Estados Unidos como por
aqui também. Aqui se tornou aliado da extrema-esquerda.
Torço para que Jair Bolsonaro faça um bom
trabalho legislativo (e há muito trabalho pela frente). Não acredito
nesse frenesi em torno de sua campanha para 2018 (em pleno 2016), pois
há algo que não cheira bem nisso tudo. Me parece mais um purismo com
foco em desviar a atenção de muita gente das demandas reais contra o
totalitarismo petista. É uma suspeita, por enquanto, que sugere mais
investigações. E não estou nem sequer culpando o candidato por isso. Mas
que há algo de estranho, quanto a isso não há dúvidas… Sinceramente?
Mesmo que eu até respeite qualquer campanha por Bolsonaro, utilizá-la
como “a única opção que temos” em pleno 2016 (de, novo, enquanto temos
muitas batalhas políticas pela frente) tem todas as características de
algo cujo final não dá sinal de ser dos melhores.
De repente eu sugiro pressionar os
deputados e senadores que não sejam bolivarianos, e isso inclui os
tucanos – que é o que de mais importante podemos fazer entre 2016 e 2018
– para ajudarem a combater a tirania petista. Daí espertalhões puristas
dizem: “ei, desista, eles são esquerdistas”. Mas esperem: a luta existe
em várias camadas, e neste momento a mais importante delas é para que o
totalitarismo de uma das esquerdas seja derrubado. Discursos como
“estratégia das tesouras” e “Pacto de Princeton” já deram o que tinha
que dar, e hoje não merecem ser vistos senão como hipóteses para as
quais seus proponentes precisam trazer provas. No fundo, tudo tem a
pinta de discurso charlatanesco feito para criar mais purismo, que não
está gerando resultado.
Eu vejo com repulsa a frouxidão de Aécio
Neves e dos demais tucanos. Assim como acho deprimente que Jair
Bolsonaro fale algumas coisas “pois dá na telha”. Por enquanto,
encaro-os como pessoas que devem trazer resultados, e isto se inclui na
ação derrubando leis totalitárias. É o que de melhor podem fazer até
2018. Ambos os lados da “oposição” foram decepcionantes em algumas
questões, como por exemplo, evitar o controle bolivariano de campanhas,
aprovado em setembro de 2015 via golpe do STF. Nenhum – repito: nenhum –
parlamentar apresentou qualquer discurso decente neste caso. O desastre
foi total e pertence a todos. A atuação parlamentar da oposição – toda
ela, e não falo apenas dos tucanos – tem sido ou frouxa ou desfocada, ou
ambos.
No momento, nossas maiores batalhas devem
estar concentradas em derrubadas do totalitarismo. Qualquer purismo
neste sentido só serve a nosso maior inimigo. Mas sem hierarquização de
valores, não saberemos nem sequer aonde está o verdadeiro inimigo.
Em tempo: todos para a rua em 13/3!
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