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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Sem uma hierarquia de valores, nossa discussão política é moralmente problemática

Posted at  15:51  |  in  

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Para compreender adequadamente qualquer coisa que eu escreva sobre política, o leitor deve ter em conta que eu sou adepto do debate moral. Em resumo, a questão da moralidade na política deve ser uma preocupação central. Assim sendo, existe aquilo que se define como hierarquia de valores. Muitas vezes o purismo apela a discursos falaciosos onde “todos são o mesmo”. Isso pode servir como propaganda e estímulo útil dentro do groupthink, mas geralmente empaca na hierarquia de valores.
Ao mesmo tempo, algumas pessoas puristas podem se revoltar ao me ver rejeitando alguns purismos. Não demora para afirmarem que estou “automaticamente optando entre (a) e (b)”, quando na verdade, até por questões morais, eu não poderia fazê-lo. Podemos definir a hierarquização de valores como uma forma de organizar ações em que as mais importantes são classificadas segundo sua importância.
O discurso visando “igualar todos os esquerdistas” já foi adotado por mim no passado. O abandonei pois fui notando que em qualquer análise sob a ótica da hierarquia de valores ele não se sustentava. Politicamente, uma das maiores imoralidades é o totalitarismo, atributo da extrema-esquerda. Já a esquerda moderada não defende o totalitarismo.
Evidentemente, toda a esquerda não só pode, como deve ser criticada. Devemos denunciar todo o estatismo, vindo ele do PSDB ou do PT. Devemos denunciar todo o marxismo cultural, apoiado ele por FHC ou por Lula. Mas não podemos igualar os dois em essência, pois a extrema-esquerda é totalitária, enquanto a esquerda moderada não é. E hoje precisamos pressionar direitistas, centristas e esquerdistas moderados para combater o totalitarismo. Essa é uma questão moral.
Se alguns dizem que “o apoio ao totalitarismo é irrelevante, então extrema-esquerda e esquerda são exatamente o mesmo”, estão tomando uma decisão moral que se visualiza como monstruosa se levarmos o debate para uma análise da hierarquia de valores. Evidentemente, qualquer tática política disposta a destruir todas as pontes com liberais, centristas e esquerdistas moderados em um momento onde temos que lutar contra a extrema-esquerda totalitária beira a imoralidade.
Alguns dirão: “ah, mas na Suécia já existem movimentos assim, atacando toda a esquerda”. Sim, é verdade, mas lá eles não lutam contra o totalitarismo nos moldes que temos aqui. Há até um politicamente correto opressor, apoiado por toda a esquerda e até tolerado por uma direita frouxa. Essa é a luta existente por lá. Por aqui, a luta é contra um totalitarismo de fato, com base em leis de controle de mídia, controle de campanha, etc. (Aliás, aqui lutamos igualmente contra o politicamente correto, pois ele se aliou à extrema-esquerda)
As decisões que temos que tomar hoje se equiparam à decisão tomada pelos Estados Unidos na Segunda Guerra: se aliariam a Stalin para combater Hitler, ou “em nome da luta contra toda a esquerda”, deveriam lutar contra os dois ao mesmo tempo e igualá-los como inimigos? Entra aí a hierarquia de valores. Sem ela, acabamos relativizando o inimigo do momento e as piores aberrações que tem sido praticadas por eles. Isso em parte explica, como já disse em outro momento, porque somos tão incapazes de lutar contra o totalitarismo petista. Não poderíamos esperar resultado diferente, pois sem uma hierarquia de valores, igualamos a abominável imoralidade de todas as ações totalitárias petistas de qualquer tipo de esquerdismo – ou no purismo mais exacerbado, até mesmo o conservadorismo ou o liberalismo, isto, é claro, quanto ambos se atacam -, já que algumas pessoas inseriram na mente de muita gente que “dá tudo no mesmo”.
Podemos lembrar do neoateísmo quando este disse que “não havia diferença entre as religiões, todas davam no mesmo e resultavam no mesmo perigo”. Os atentados em Paris e os estupros de mulheres na Alemanha estão mostrando que essa noção não atende a nenhuma forma de hierarquização de valores. Embora seculares possam lutar contra toda a religião, igualar cristianismo e islamismo é um crime moral. Dizer que “todas as religiões representam o mesmo perigo”, como na visão do humanismo secular, é o mesmo que dizer que “todos os esquerdismos representam o mesmo perigo” ou “esquerdismo e liberalismo são iguais, e todos representam o mesmo perigo” (na visão conservadora purista) ou “esquerdismo e conservadorismo são iguais, e todos representam o mesmo perigo” (na visão libertária ou liberal, ambas puristas).
Assim, deixo bem claro meu ponto de vista. Embora por ser de direita e rejeite o esquerdismo em sua integralidade, eu sei diferenciar aqueles que visam o totalitarismo e priorizam sua busca daqueles que não tem essa prioridade ou mesmo a intenção. E vou priorizar a luta contra aquilo que é a maior das imoralidades políticas modernas: a ditadura sutil. O politicamente correto vai junto na lista de inimigos, pois está sendo usado pelos esquerdistas mais radicais tanto na Europa e nos Estados Unidos como por aqui também. Aqui se tornou aliado da extrema-esquerda.
Torço para que Jair Bolsonaro faça um bom trabalho legislativo (e há muito trabalho pela frente). Não acredito nesse frenesi em torno de sua campanha para 2018 (em pleno 2016), pois há algo que não cheira bem nisso tudo. Me parece mais um purismo com foco em desviar a atenção de muita gente das demandas reais contra o totalitarismo petista. É uma suspeita, por enquanto, que sugere mais investigações. E não estou nem sequer culpando o candidato por isso. Mas que há algo de estranho, quanto a isso não há dúvidas… Sinceramente? Mesmo que eu até respeite qualquer campanha por Bolsonaro, utilizá-la como “a única opção que temos” em pleno 2016 (de, novo, enquanto temos muitas batalhas políticas pela frente) tem todas as características de algo cujo final não dá sinal de ser dos melhores.
De repente eu sugiro pressionar os deputados e senadores que não sejam bolivarianos, e isso inclui os tucanos – que é o que de mais importante podemos fazer entre 2016 e 2018 – para ajudarem a combater a tirania petista. Daí espertalhões puristas dizem: “ei, desista, eles são esquerdistas”. Mas esperem: a luta existe em várias camadas, e neste momento a mais importante delas é para que o totalitarismo de uma das esquerdas seja derrubado. Discursos como “estratégia das tesouras” e “Pacto de Princeton” já deram o que tinha que dar, e hoje não merecem ser vistos senão como hipóteses para as quais seus proponentes precisam trazer provas. No fundo, tudo tem a pinta de discurso charlatanesco feito para criar mais purismo, que não está gerando resultado.
Eu vejo com repulsa a frouxidão de Aécio Neves e dos demais tucanos. Assim como acho deprimente que Jair Bolsonaro fale algumas coisas “pois dá na telha”. Por enquanto, encaro-os como pessoas que devem trazer resultados, e isto se inclui na ação derrubando leis totalitárias. É o que de melhor podem fazer até 2018. Ambos os lados da “oposição” foram decepcionantes em algumas questões, como por exemplo, evitar o controle bolivariano de campanhas, aprovado em setembro de 2015 via golpe do STF. Nenhum – repito: nenhum – parlamentar apresentou qualquer discurso decente neste caso. O desastre foi total e pertence a todos. A atuação parlamentar da oposição – toda ela, e não falo apenas dos tucanos – tem sido ou frouxa ou desfocada, ou ambos.
No momento, nossas maiores batalhas devem estar concentradas em derrubadas do totalitarismo. Qualquer purismo neste sentido só serve a nosso maior inimigo. Mas sem hierarquização de valores, não saberemos nem sequer aonde está o verdadeiro inimigo.
Em tempo: todos para a rua em 13/3!

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